Professor Hélio Zylberstajn continua análise dos efeitos da Reforma Trabalhista na Justiça do Trabalho

Primeiros impactos da Reforma Trabalhista (2)Hélio Zylberstajn – Professor sênior da FEA/USP e Coordenador do Projeto Salariômetro da Fipe

No último número deste Boletim, apresentei o primeiro impacto da Reforma Trabalhista: a queda apreciável na quantidade de reclamações nas Varas de Trabalho do país. Utilizei dados de 14 TRTs que estavam disponíveis naquele momento. Logo depois, o TST disponibilizou os números referentes ao conjunto de todos os 24 TRTs e confirmou a expressiva queda apontada aqui há cerca de 30 dias. A queda na litigiosidade é o impacto imediato da entrada em vigor da Lei 13.467/2017.

Além de introduzir mudanças moralizadoras no Processo de Trabalho, a Reforma Trabalhista criou novas formas de contratação e permitiu o desligamento por acordo. Estas inovações atendem situações específicas que não eram até então contempladas na legislação.

Mas, os círculos que se opõem à Reforma preconizaram que estas inovações poderiam destruir vínculos regulares, transformando trabalhadores permanentes em mão-de-obra eventual e “precarizada”.

Vejamos se os números disponíveis pós reforma confirmam a hipótese do “fim do mundo”. Vamos examinar três das inovações criadas: trabalho intermitente, jornada parcial e desligamento por acordo.

O quadro a seguir apresenta a frequência de casos observados nos meses de novembro e dezembro de 2017 e no total dos dois meses, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), levantamento mensal das contratações e dos desligamentos que as empresas informam ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Impactos da Reforma Trabalhista: Trabalho intermitente, Jornada Parcial e Desligamento por Acordo – Novembro e Dezembro/2017 – CAGED

 NovembroDezembroTotal
Trabalho Intermitente
Admitidos3.1202.8515.971
Desligados53277330
Saldo3.0672.5745.641
Trabalho em jornada parcial
Admitidos7442.3283.072
Desligados5133.3323.845
Saldo231-1.004-773
Desligamentos por acordo
 8055.8416.646
Total
Admitidos1.111.798917.0312.028.829
Desligados1.124.0901.513.2392.637.329
Saldo-12.292-596.208-608.500

Trabalho intermitente. Nos dois meses, as empresas brasileiras contrataram 5.971 trabalhadores intermitentes e desligaram 330, resultando em um saldo positivo de 5.441 novos postos de trabalho nesta nova forma de contratação.

Jornada parcial. A Lei 13.467/2017 estendeu a jornada parcial para até 30 horas. A quantidade de contratados e desligados nos dois meses examinados foi, respectivamente, 3.072 e 3.845, resultando em uma perda de 773 vagas.

Desligamentos por acordo. Houve, no total, 6.646 casos dessa modalidade de desligamento.

Comparados com a quantidade de admissões e desligamentos – respectivamente, 2.028.829 e 2.637.329 – a frequência de utilização das inovações é, até agora, extremamente reduzida, insignificante mesmo.

É claro que ainda é cedo para uma avaliação segura, mas os primeiros números sugerem que as empresas estão se comportando de forma bastante precavida e prudente. Estão avaliando o significado e o alcance das inovações e tenderão a adotá-las apenas quando estiverem muito seguras. Tudo indica que os impactos estão muito longe de configurar o “fim do mundo” preconizado pelos alarmistas.

Voltaremos ao tema do impacto da Reforma Trabalhista no próximo número.

Compartilhe